sábado, 20 de novembro de 2010

Memórias de um sábado

Hoje, pela primeira vez, fui aos comércios da rua José Paulino, aqui em Sampa, com uma prima. Não me cabia as compras, somente acompanhá-la e ajudá-la. Dia quente, calçadas lotadas. Percebi algumas coisas que me deixaram cansada. O que será que a cidade de São Paulo está fazendo com as pessoas?

Em uma das lojas, momento do pagamento, o valor da compra não batia com a soma feita pela vendedora que nos atendeu alguns minutos antes. A conta havia sido feita duas vezes em uma máquina de calcular, e em ambos os casos, deram o mesmo preço. A diferença entre a soma da vendedora e da caixa era de dez reais. Quando perguntamos o motivo do ocorrido, a caixa simplesmente repetia o valor - coletado através do código de barras dos produtos - sem ao menos tentar dar uma explicação ou resolver a questão.

“Pra você ver que calculadora louca”, respondeu a moça do caixa, quando dissemos que a conta foi feita e refeita na calculadora. Insistimos em entender o motivo da diferença. A cena seguinte foi a tal moça arrancando a nota fiscal da máquina, nos entregando e dizendo, com toda grosseria que ela conseguiu reunir, para irmos para o lado conferir os preços. Era de uma arrogância que me causava enjôo.

Notamos que uma blusa estava com o preço maior do que o informado pela atendente anterior. Quando explicamos a situação, a moça atrás do caixa, impaciente, disse que a vendedora informou o valor errado. Diante daquela situação desagradável e da grosseria que recebíamos, minha prima disse que ela deveria treinar melhor a equipe, e o ápice da situação foi sua justificativa: “A loja está lotada e vocês têm que entender isso!”. Falava num tom de imposição, como quem está mandando. Não haveria problema que a vendedora errou, nós só queríamos entender o ocorrido.

“Que grossa!”, foi tudo o que eu disse a minha prima. Por mim, iríamos embora. Era inacreditável aquela arrogância, o tato que ela tinha para tratar mal os clientes. Já havia percebido tal característica pela forma que ela havia lidado com um casal antes de nós.

Nem o estresse do trabalho num sábado quente justifica uma falta de respeito gratuita, como a que presenciei hoje.

Depois de tanto mau humor e falta de educação recebidos, minha prima pagou e saímos. A nossa jornada na rua continuou. O tráfego de pedestres estava difícil, e por vezes eu esbarrava em alguns; A cada desculpa pedida, eu recebia uma “cara feia” em troca.

Claro que há exceções, mas, as pessoas me cansam, quase ninguém é generoso com o próximo, tudo parece uma disputa. Sei lá se estou certa ou não, mas, às vezes prefiro me isolar.

Nesta história toda, a companhia, os momentos bons, que foram bem maiores que os ruins, as risadas e a conversa são o que contam. Isso é o que me importa realmente.

É só que não dá para ficar engolindo certas coisas.

6 comentários:

  1. Gostei muito mesmo da sua participação em PALAVRA FIANDEIRA. Seu texto abordou com leveza e coerência a questão do Negro na publicidade.
    Parabéns e obrigado pela sua presença, mais uma vez.
    Um abraço,
    Marciano Vasques

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  2. Eu é quem agradeço, seu Marciano. Participar da Palavra Fiandeira é sempre uma alegria.

    E os temas abordados são sempre interessantes e importantes, a exemplo deste último, que eu adorei escrever.

    Obrigada pelos parabéns e pelo espaço.

    Abraços.

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  3. nossa, que aventura lidar com essa funcionária! o estresse é mesmo um sintoma das confusões de São Paulo! parabéns pelo realismo do relato!

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  4. Obrigada, Nilo.

    Foi uma situação à qual eu achei que merecia um texto para o blog.

    Beijos.

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  5. É o mundo de contrastes esse em que vivemos. Em meio a tanta grosseria vemos umas situações lindas também, uma delas aconteceu com minha mãe em BH. Ela pegou um ônibus e estava indo pra um lugar que não conhecia muito, então perguntou pra uma mulher onde fica uma rua. Quando chegou no ponto a mulher desceu com ela e apontou a rua e minha mãe perguntou se ela ia descer ali mesmo, ela disse que não, desceu pra mostrar onde era, foi pro ponto de novo pra pegar outro ônibus. Achei muito legal, mostra que ainda tem muita gente boa, basta olhar 'com a alma' . No geral dizem que em BH as pessoas são assim, mas elas estão em todos os cantos, não podemos perder a fé nas pessoas, infelizmente é o que a vida tem nos ensinado, mas não tem que ser assim.

    Abraço

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  6. Pois é, Marina, o contraste é uma boa definição para este mundo de tudo e de todos.

    Com certeza vemos belas coisas, inclusive, há pouco tempo, eu também tive uma experiência com alguém muito gentil em um ônibus. Estava meio perdida aqui em Sampa, um bairro que eu não conhecia bem, e fiquei muito agradecida pela ajuda que recebi.

    Muito bacana a história de sua mãe, gostei de saber desta experiência. Foi um gesto muito bonito da mulher que a ajudou.

    Lembrei-me, com seu comentário, de uma passagem do livro "O Pequeno Príncipe", onde a raposa diz: "Só se vê bem com o coração". É por aí, mesmo.

    Abraços.

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